quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Gentileza


"Onde houver gentileza haverá sempre um gesto que surpreenda. O amor se esconde nas coisas pequenas; e a amizade, nas atitudes que se refletem maiores que a presença." Patty Vicensotti

O dia e a noite me trouxeram, ontem, dois belos exemplos de pessoas que trazem em suas almas uma das virtudes que mais admiro: a gentileza. São pessoas com vidas tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão parecidas em sua delicadeza de ser, algo realmente digno de admiração.

Eu chegava ao trabalho quando encontrei seu Raimundo (como ele é conhecido). Morador de um bairro simples da minha cidade, é um idealista que descruza os braços e faz acontecer. Recentemente, pintou nas escadarias do morro onde mora com palavras e frases do tipo "Bom dia", "Obrigado"... E a partir daí, da escadaria da gentileza, viu a mudança acontecer. Passou a ser recebido com cumprimentos, sorrisos. Ouviu de algumas pessoas que outras pessoas estavam fazendo questão de falar a primeira palavra gentil ao encontrá-las e que a atitude se multiplicava pelo ambiente, feito dente-de-leão, aquela flor frágil que a um sopro voa longe e leva beleza pra nascer em outro lugar...

O ideal de seu Raimundo foi muito além do campo das ideias. A "teoria" do profeta* realmente se comprovava para ele: Gentileza gera gentileza. Ao encontrá-lo descendo as escadas, cumprimentei-o e recebi em troca um sorriso. Só depois me apresentei - já havíamos nos falado pelo telefone, mas ele não me conhecia pessoalmente. Parabenizei-o sobre a iniciativa da escadaria, falamos sobre o quanto é importante fazer acontecer e não esperar apenas pelo gesto dos outros. E ele deu mais demonstrações de gentileza em suas palavras, pra variar. Não resisti e disse: "Seu Raimundo, já valeu o dia ter encontrado o senhor". Era verdade.

Já passava da hora de eu ir embora, à noite, quando recebi um telefonema da recepção do meu trabalho. "Lu, chegou uma encomenda pra você, mas preciso entregar em mãos", afirmou a colega do outro lado da linha. "Ok, tô descendo", avisei. Em um minuto, estava lá. No caminho, imaginei o que poderia ser. Confesso que até pensei em coisas não tão legais. Mas era legal sim. Seu Raimundo ficaria orgulhoso!

A amiga Lá (Laély, do Sala da La) deixou pra mim umas delícias de pãezinhos que, pelo que conheço, devem ter sido feitos por ela. E Lá nem deveria saber que eu havia feito a última refeição havia muiiiitas horas. Mas o importante mesmo é que ela não alimentou meu corpitcho apenas. O gesto de Lá nutriu, assim como fez seu Raimundo, as minhas esperanças em um mundo em que as pessoas não pensam apenas nelas. Elas pensam no outro, em uma sociedade melhor, mais digna, mais humana.

Infelizmente, não vi Lá pessoalmente ontem (ela apenas deixou um bilhete "fo-fo" junto do pacotinho tão lindinho com os pães). Mas sei que ela sabe que, assim como diz a frase que abre este post, a gentileza traz em seu essência o gesto que surpreende e a amizade está nas atitudes que se refletem maiores que a presença.

Beijos a todas,
Lu
* José Datrino (1917 - 1996), o Profeta Gentileza, viveu boa parte da vida no Rio de Janeiro, onde deixou em pilastras de um viaduto inscrições características. Sua frase mais famosa é "Gentileza gera gentileza".

2 comentários:

  1. Concordo plenamente e assino em baixo. Temos que ser mais gentis, simplesmente por ser. Sorrir mais. Agradecer mais. A convivência ficaria bem mais fácil. Gostei da história. são atitudes simples que aquecem o coração...
    Bjão
    Mari

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  2. Ô, Lu!...Gentileza, a sua!
    Eu ando nuns dias meio "down", mas acredito piamente que pequenas ações têm potencial transformador, nem que seja, melhorar o dia de alguém. Afinal, se atitudes negativas, por menores que sejam são capazes de afetar nosso humor, muito mais, as positivas! E, são coisas tão simples!
    Não posso nem dizer que não foi nada. Embora um tanto constrangida, pensando cá comigo: "o que vão pensar de mim, deixando comida pra Luciana?", sabia que é o tipo de pessoa que valoriza esses detalhes e que receberia o pacotinho com um sorriso no rosto( que eu não pude ver com os olhos, mas, como disse a raposa ao Pequeno Príncipe: "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”...)
    Beijo!

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